domingo, 9 de dezembro de 2012

the illusion of understanding


“A general limitation of the human mind is its imperfect ability to reconstruct past states of knowledge, or beliefs that have changed. Once you adopt a new view of the world (or of any part of it), you immediately lose much of your ability to recall what you used to believe before your mind changed.” (Daniel Kahneman em Thinking Fast and Slow).

BRL/USD a 2,14. Quem poderia imaginar no começo deste ano? Muitos acreditavam em uma apreciação (assim como eu), uns poucos em USD próximo a 1,90 e não lembro de ter lido nada sobre USD acima de 2,00. Conforme o governo passou a mostrar maior determinação em desvalorizar a moeda, os analistas iniciaram revisões das previsões. Hoje com USD acima de 2,10 já se fala em 2,3 e 2,4. Isto nos remete a frase inicial deste texto do Kahneman no capitulo que trata da illusion of understanding. Como é fácil reconstruir o passado mas difícil em voltar ao passado e reconstruir o futuro depois que o futuro já aconteceu. Tudo parece obvio e claro demais. E o futuro então, parece simples prever agora que ou o USD deve se manter em uma banda de 2,10 a 2,15 ou o governo deve continuar em um processo de desvalorização controlado da moeda. A mente humana gosta de acreditar em estórias simples e coerentes.

“The core of the illusion is that we believe we understand the past, which implies that the future also should be knowable, but in fact we understand the past less that we believe we do. Know is not the only word that fosters this illusion.” (Kahneman)

Com as 3 intervenções de ontem (03/12/12) e a alteração no prazo de pré pagamentos de hoje (04/12/12), o governo dá sinais contundentes que continuará em um processo de controle cambial. O governo quer um BRL mais depreciado, que ajude a industria aumentando sua competitividade, mas não quer que isto aconteça rápido demais colocando em risco a estabilidade monetária. É um jogo perigoso, mas que outros grandes players como Suiça e Japão também participam.

Em agosto, após voltar da Dinamarca, com EUR a 1,22 e USD a 2,02, mantive minha posição de que o EUR deveria terminar acima de 1,2 (hoje 1,31). Para o USD, mantenho a posição comprada. A determinação do governo em desvalorizar o cambio é impressionante e considerando o PIB fraco e a expectativa da inflação ancorada, o governo deve continuar usando o câmbio para tentar estimular a industria. Precisamos ver como ela reagirá em termos de investimentos que foi a variável mais decepcionante do ultimo PIB divulgado. Uma das perguntas que fiz em agosto parece respondida: o governo não parece muito disposto a deixar o BRL se apreciar consideravelmente nas ultimas semanas de dezembro para aliviar o impacto contábil negativo nas empresas com dívidas em USD. Ainda assim, acredito que há uma possibilidade de isto acontecer. Já a segunda pergunta ainda persiste: Se o IPCA acelerar, o governo pretende utilizar a moeda para controlar a inflação?

Considerando os estudos recentes de que o "pass-through" do câmbio para a inflação estaria em trajetória declinante, acredito que o governo deva utilizar seu arsenal de medidas macroprudenciais ou mesmo retirar algumas das medidas implementadas antes de mudar a estratégia para uma apreciação contundente do BRL. Confiar que o governo seguirá desvalorizando o BRL não é fácil, mas duvidar pode ser perigoso.

Para os juros, há algum tempo venho insistindo que a tendência é de redução. Estamos trabalhando nos menores patamares de juros reais brasileiros, mas ainda assim há espaço adicional. Se a inflação persistir entre 5% e 6% e o PIB não mostrar reação, os juros devem continuar sua trajetória de queda. De novo, parece pouco provável o governo reverter a trajetória de queda/manutenção antes de esgotar as medidas macroprudenciais.

Quanto ao PIB para o próximo ano, as previsões das principais casas são otimistas. De um modo geral, consideram a reação do investimentos como a chave para sustentar o crescimento no próximo ano. Tenho duas preocupações: 1) se de fato o investimento vai reagir significativamente diante de um cenário institucional cada vez mais incerto (vide as elétricas); 2) a inadimplência das pessoas físicas continua preocupantemente em patamares elevados. Com a injeção do 13º, o indicador deve melhorar um pouco, mas a persistência da inadimplência com o desemprego e os juros nos menores patamares históricos, me causa bastante desconforto. Estamos, de fato, próximo ao limite do crescimento baseado em consumo privado. Torço para que a economia brasileira consiga mudar rumo ao investimento.

Feliz Natal e um 2013 cheio de saúde, paz e felicidades.
 
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