Esta semana li uma interessante reportagem no Valor a sobre a valorização do real. Como o tempo está curtissimo, alguns textos conseguem sintetizar bem determinados pontos de vista pessoais.
"Diante do fim da recessão e o início de uma recuperação da economia brasileira, há dois tipos de reação dos investidores. Uma é boa. A outra, preocupante. A primeira refere-se ao otimismo dos estrangeiros que mantiveram e estão aumentando os investimentos diretos (IED) no Brasil, numa avaliação mais consistente e de mais longo prazo que é bem-vinda. A segunda trata da euforia que se reflete nos mercados financeiros e que se expressa nos preços dos ativos. Esta preocupa o governo e explica a declaração do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anteontem, no Senado, quando aconselhou os investidores a botarem os "pés no chão" e evitarem "o exagero e a euforia na precificação de ativos".
O governo está realmente preocupado com o que entende ser uma "aposta irracional no real": uma taxa de câmbio de R$ 1,60 a R$ 1,70 ao fim deste ano, num processo acentuado de valorização. "Isso vai e volta", assinalam as fontes oficiais, chamando a atenção para os danos da volatilidade e para o potencial de prejuízos que isso pode acarretar. Dentro do governo há a avaliação de que a apreciação recente do real tem um componente de especulação.
Quando a taxa de câmbio, no passado, chegou a bater em R$ 1,56, o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos começou a crescer, assumindo uma trajetória que o Banco Central considerou insustentável, na época, e o dólar se valorizou novamente, lembram essas fontes. "O mercado está apostando nisso de novo?", indagou, apreensivo, um influente economista do governo.
Acredita-se, na área econômica, que o excesso de otimismo no mercado de ações, no de câmbio, e um pouco também nos preços de commodities, agora, também é insustentável. Se essa avaliação estiver correta, haverá uma reversão e esta poderá produzir turbulências desnecessárias decorrentes de prejuízos dos investidores que fizeram apostas erradas, unilaterais. Está ainda fresco na memória dos economistas do governo o drama dos derivativos cambiais que, no ano passado, levou várias empresas no país a prejuízos bilionários e a uma situação delicadíssima. Seria muito ruim ocorrer algo semelhante justamente na hora em que se inicia a recuperação econômica, apontam esses analistas.
Nesta semana Meirelles declarou que chegou ao fim a recessão técnica no país. Indicadores antecedentes levam o governo a prever que, no segundo trimestre deste ano, a economia cresceu entre 1% e 2% sobre o primeiro trimestre, em linha com as projeções do mercado. Ao fim deste ano, o crescimento pode ficar próximo de zero a ligeiramente positivo e, em 2010, o país cresceria algo como 4%. Tais perspectivas não são suficientes, avaliam essas fontes, para sancionar a euforia dos mercados.
O governo, em geral, e a autoridade monetária, em particular, têm pouco a fazer em momentos de "exuberância irracional". Ele pode alertar, como fez o então presidente do Federal Reserve (Fed), Alan Greenspan, há 13 anos, pouco antes da crise asiática, e fez anteontem o presidente do BC brasileiro. Pode e deve conduzir uma política monetária responsável. Embora já haja quem enxergue nas políticas de juros muito baixos e mesmo negativos do mundo desenvolvido um incentivo à formação de bolhas, esse não é o caso do Brasil. Aqui, os juros caíram 5 pontos percentuais de janeiro até agora, mas a taxa Selic de 8,75% ao ano ainda é bastante razoável, em termos reais.
É muito difícil delimitar onde terminam as expectativas otimistas, porque o país está com bons fundamentos e a recuperação será mais rápida e mais intensa do que nos países desenvolvidos, e onde começa a euforia movida por exageros. "Crescer zero ou 1% este ano e 4% no ano que vem não justifica tanto otimismo, não justifica perder a cabeça", comentou uma fonte qualificada do governo.
Ou seja, não é simples identificar onde está se formando uma bolha. Vários economistas, ao analisar a crise das hipotecas americanas (os subprimes), que se transformou numa crise econômica global, disseram que quando há, de fato, uma formação de bolha, todo mundo acaba sabendo.
O Banco Central, até onde a vista alcança, já enxerga exageros nas apostas do mercado, sobretudo em relação ao real, mas também nos demais ativos. O problema não se limita a eventuais prejuízos que uma reversão nesses mercados pode trazer a uma ou outra empresa. A fonte de preocupação é com os efeitos que perturbações dessa natureza podem gerar na economia real, principalmente numa hora em que há sinais de recuperação, mas estes ainda são frágeis. "
Claudia Safatle é diretora de redação adjunta e escreve às sextas-feiras
"Diante do fim da recessão e o início de uma recuperação da economia brasileira, há dois tipos de reação dos investidores. Uma é boa. A outra, preocupante. A primeira refere-se ao otimismo dos estrangeiros que mantiveram e estão aumentando os investimentos diretos (IED) no Brasil, numa avaliação mais consistente e de mais longo prazo que é bem-vinda. A segunda trata da euforia que se reflete nos mercados financeiros e que se expressa nos preços dos ativos. Esta preocupa o governo e explica a declaração do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anteontem, no Senado, quando aconselhou os investidores a botarem os "pés no chão" e evitarem "o exagero e a euforia na precificação de ativos".
O governo está realmente preocupado com o que entende ser uma "aposta irracional no real": uma taxa de câmbio de R$ 1,60 a R$ 1,70 ao fim deste ano, num processo acentuado de valorização. "Isso vai e volta", assinalam as fontes oficiais, chamando a atenção para os danos da volatilidade e para o potencial de prejuízos que isso pode acarretar. Dentro do governo há a avaliação de que a apreciação recente do real tem um componente de especulação.
Quando a taxa de câmbio, no passado, chegou a bater em R$ 1,56, o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos começou a crescer, assumindo uma trajetória que o Banco Central considerou insustentável, na época, e o dólar se valorizou novamente, lembram essas fontes. "O mercado está apostando nisso de novo?", indagou, apreensivo, um influente economista do governo.
Acredita-se, na área econômica, que o excesso de otimismo no mercado de ações, no de câmbio, e um pouco também nos preços de commodities, agora, também é insustentável. Se essa avaliação estiver correta, haverá uma reversão e esta poderá produzir turbulências desnecessárias decorrentes de prejuízos dos investidores que fizeram apostas erradas, unilaterais. Está ainda fresco na memória dos economistas do governo o drama dos derivativos cambiais que, no ano passado, levou várias empresas no país a prejuízos bilionários e a uma situação delicadíssima. Seria muito ruim ocorrer algo semelhante justamente na hora em que se inicia a recuperação econômica, apontam esses analistas.
Nesta semana Meirelles declarou que chegou ao fim a recessão técnica no país. Indicadores antecedentes levam o governo a prever que, no segundo trimestre deste ano, a economia cresceu entre 1% e 2% sobre o primeiro trimestre, em linha com as projeções do mercado. Ao fim deste ano, o crescimento pode ficar próximo de zero a ligeiramente positivo e, em 2010, o país cresceria algo como 4%. Tais perspectivas não são suficientes, avaliam essas fontes, para sancionar a euforia dos mercados.
O governo, em geral, e a autoridade monetária, em particular, têm pouco a fazer em momentos de "exuberância irracional". Ele pode alertar, como fez o então presidente do Federal Reserve (Fed), Alan Greenspan, há 13 anos, pouco antes da crise asiática, e fez anteontem o presidente do BC brasileiro. Pode e deve conduzir uma política monetária responsável. Embora já haja quem enxergue nas políticas de juros muito baixos e mesmo negativos do mundo desenvolvido um incentivo à formação de bolhas, esse não é o caso do Brasil. Aqui, os juros caíram 5 pontos percentuais de janeiro até agora, mas a taxa Selic de 8,75% ao ano ainda é bastante razoável, em termos reais.
É muito difícil delimitar onde terminam as expectativas otimistas, porque o país está com bons fundamentos e a recuperação será mais rápida e mais intensa do que nos países desenvolvidos, e onde começa a euforia movida por exageros. "Crescer zero ou 1% este ano e 4% no ano que vem não justifica tanto otimismo, não justifica perder a cabeça", comentou uma fonte qualificada do governo.
Ou seja, não é simples identificar onde está se formando uma bolha. Vários economistas, ao analisar a crise das hipotecas americanas (os subprimes), que se transformou numa crise econômica global, disseram que quando há, de fato, uma formação de bolha, todo mundo acaba sabendo.
O Banco Central, até onde a vista alcança, já enxerga exageros nas apostas do mercado, sobretudo em relação ao real, mas também nos demais ativos. O problema não se limita a eventuais prejuízos que uma reversão nesses mercados pode trazer a uma ou outra empresa. A fonte de preocupação é com os efeitos que perturbações dessa natureza podem gerar na economia real, principalmente numa hora em que há sinais de recuperação, mas estes ainda são frágeis. "
Claudia Safatle é diretora de redação adjunta e escreve às sextas-feiras
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