sexta-feira, 2 de março de 2012

"Tsunami Monetário"


Discurso inspirador de nossa presidenta ontem. É por isso que nós nos preocupamos sim com esse tsunami monetário dos países desenvolvidos que não usam políticas fiscais de ampliação da capacidade de investimento para sair da crise em que estão metidos. Nós sabemos que hoje as condições de concorrência são adversas, não porque a indústria brasileira não seja produtiva, mas porque tem uma guerra cambial baseada numa política monetária expansionista que cria condições desiguais de concorrência.” Dilma Rousseff

O Tsunami a que se refere Dilma é a gigantesca
injeção de dinheiro levada a cabo pelos bancos centrais ao redor do mundo. USA, Japão, Inglaterra e União Européia injetaram mais de USD 4,5 tri desde o inicio da crise. Apenas nesta semana o BCE injetou EUR 530 bi no sistema financeiro. Todo este dinheiro precisa ir para algum lugar em busca de rendimento. É difícil o BCB lutar contra toda esta montanha de dinheiro em circulação, mas há muitos instrumentos disponíveis para reduzir a volatilidade no real. Com tanto dinheiro em circulação parece difícil ficar pessimista. O otimismo continua pelo menos pelos agentes atrás dos terminais bloomberg mundo afora. Mas e no mundo real onde as coisas de fato acontecem?


A situação segue difícil. Em 2011 o credito para as famílias e pequenas e medias empresas reduziu na Espanha. As 9 principais instituições financeiras espanholas reduziram em média 4,8% o estoque de crédito na economia, como mostra o gráfico abaixo.


Além disto, os bancos espanhóis e os europeus (em geral) passam por um processo de desalavancagem e ajustes de capital. As concessões de credito vão cair ainda mais mesmo com toda a expectativa de que as linhas do BCE chegariam às empresas e famílias. Além disto, os bancos estão reduzindo de tamanho através de demissões e fechamento de agencias.



Hoje, o Conselho de Ministros da Espanha anunciou o cenário para o ano de 2012: contração do PIB em 1,7%, déficit de 5,8%, corte de 630 mil empregos e taxa de desemprego de 24,3%. Este é o cenario traçado pelo governo. Em geral, governos são otimistas. As coisas não estão muito melhor na Italia que eliminará a isenção que a Igreja tem no pagamento do Imposto de Bens Imoveis. A expectativa é recolher EUR 700MM da Igreja Italiana.


A situação nos outros países europeus não é muito diferente: forte ajuste fiscal, desemprego, ajustes no sistema financeiro, demanda fraca. É difícil manter-se otimista em um cenário destes. Cedo ou tarde, os fundamentos econômicos devem prevalecer. Com isto poderiamos esperar uma queda do EUR frente ao USD abaixo de 1,20? Sabemos que previsões estão fadadas ao erro, mas acho pouco provável terminarmos o ano abaixo deste valor. Lembremos que o FED também está empenhado no enfraquecimento do USD. Além disto, há muitos interesses em jogo. Bancos Centrais, fundos soberanos, empresas européias, governos de outros países, bancos e por aí vai. Por mais que os hedge funds apostem na ponta vendedora, sabemos que a dinâmica do sistema financeiro mundial é extremamente complexa e difícil de ser mapeada.

No curto prazo, tudo indica que as moedas dos países emergentes sofrerão forte pressão de apreciação. O fluxo de dinheiro é enorme e estão vindo em direção aos emergentes. Não dá pra lutar contra por muito tempo. É como alguém cair em um rio caudaloso depois de uma tempestade e querer nadar contra a correnteza. Quanto tempo esta pessoa aguenta? Senão quiser seguir o fluxo das águas, melhor sair do rio e esperar a correnteza acalmar.

Por mais que a tendência seja de apreciação do BRL, os discursos e as medidas anunciadas ontem mostram a determinação das autoridades brasileiras em suportar o BRL a 1,70 ou pelos menos reduzir a velocidade de apreciação da moeda brasileira. Tombini disse com todas as letras que o BC continuará com a estratégia de acumulação de reservas. “O BC nunca abandonou essa estratégia, mesmo nos momentos em que saiu do mercado nos últimos meses. O BC sempre confirmou que, as condições de mercado permitindo ou exigindo, o Banco Central interviria e continuaria com a acumulação de reservas.” É preciso coragem para tomar grandes posições vendedoras em USDBRL neste momento.

All in all, continuo reticente que todo este otimismo persistirá por muito tempo enquanto a demanda não apresentar sinais consistentes de melhora. Não há dinheiro no mundo que force famílias e empresas a consumirem e investirem enquanto incertezas de médio e longo prazo persistirem. E isto leva tempo ...

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