O titulo é uma homenagem à Dinamarca. Em Julho tive a
oportunidade de passar 3 semanas em férias (na verdade em um exchange program
de uma ONG Internacional que faço parte). Embora já tenha morado na Europa,
sempre tive vontade de passar mais tempo conhecendo os países escandinavos. Há
algo diferente lá.
Tirando a Calsberg, Lego, Maersk e os windmills, conhecia
pouco da Dinamarca. E fiquei impressionado com o que pude conhecer. País de
pouco mais de cinco milhões de habitantes, extremamente seguro e organizado.
Depois de algum tempo de convivência, você percebe que os dinamarqueses são
bastante acolhedores. Para eles o senso de igualdade faz parte da cultura. Como
me disse um deles: “Não posso ser feliz convivendo com a pobreza ao meu redor”.
Todos devem ter oportunidades. Saúde e educação gratuitas e de boa qualidade
para todos. Mas isto tem um custo: impostos.
Duas foram as principais reclamações das famílias com quem
conversei: o clima e os impostos. Sobre o clima, vocês podem imaginar. Nosso
inverno é mais quente que o verão deles. E quanto aos impostos, a alíquota
começa acima de 40% com desconto em folha. Conforme a renda familiar
sobe, a alíquota sobe. Na margem, algumas famílias pagam mais de 60% em
impostos sobre a renda. Adicionamos a isto mais 25% do VAT e dos
impostos adicionais sobre os produtos não saudáveis. Carros são taxados em mais
de 100%, dependendo do modelo. Logo, fica bem clara a reclamação quanto aos
impostos. Em contrapartida, não há gastos adicionais com escolas para os
filhos, faculdade, plano de saúde, segurança particular, etc. Além disto
recebem algum dinheiro de volta diretamente do governo, por exemplo, para cada
filho até uma determinada idade como “ajuda de custo”.
Curiosidades: Chamou minha atenção a quantidade de café per
capita consumido pela Dinamarca, uma das mais altas do mundo, junto com os
outros países nórdicos como Finlandia, Noruega, Islandia e Suecia. Aproveitei
para comprar algumas capsulas da Nespresso, cada uma custou R$ 1,05 (R$
0,85 com tax free). No Brasil é mais que o dobro. Em Amsterdam estava em
EUR 0,30. Quanto à comida, para quem acha que eles vivem apenas de peixe, os
dinamarqueses figuram no topo do ranking de produtores e consumidores per
capita de carne de porco. Deem uma olhada no tamanho da empresa Danish Crown (http://www.danishcrown.com/). Faturamento
de quase R$ 19 bi com 90% de exportação.
Economia: vou destacar dois pontos. Certa vez estava
conversando sobre credito imobiliário e hipoteca. Em taxa fixa, eles conseguem
juros de 2% a 3% ao ano por 30 anos. Podem ainda optar por taxa
variável com renegociação anual sendo que o primeiro ano está próximo de zero
uma vez que a Dinamarca também está emitindo divida a juros negativos. Quando
falei que nossos juros eram de 8,5%, eles me perguntaram se não tinha muito
dinheiro vindo para o Brasil com uma taxa tão alta. Respondi que era uma das
taxas mais baixas da historia. A resposta foi: “That is crazy”.
O segundo ponto está relacionado ao preço do combustivel.
Enquanto no Brasil temos preços controlados, na Dinamarca os preços do diesel
oscilam intraday. E não é só isto, vi variações de quase 10% entre os
preços pela manha e pela noite. Sim, é verdade. Tenho fotos para provar.
A Dinamarca tem uma das monarquias mais antigas da Europa. A
família real é um bom negocio para o país. Atrai turistas por onde passa e
movimenta a economia com a venda de produtos com o “carimbo” real. Eu mesmo
trouxe algumas porcelanas do Royal Copenhagen. Eles me perguntaram o que eu
achava. Respondi que concordava e que em termos de custos deveria ser mais
barato que manter nosso sistema presidencialista.
Há ainda muitas coisas
interessantes sobre este pequeno país ao norte da Europa. Mas deixo para vocês
verem pessoalmente quando tiverem oportunidade. Gosto de um trecho escrito pelo
Amyr Klink que diz o seguinte: “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não
por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus
olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias
árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto.
Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem
precisa viajar para lugares que não conhece, para quebrar essa arrogância que
nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser.
Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser
alunos, e simplesmente ir ver"
De volta ao Brasil e tentando entender o espírito do
momento, destaque do Valor no caderno de Empresas de hoje: “Um trimestre
para esquecer” e “Dólar caro provoca efeito bilionário”. Após o primeiro
prejuízo da Petrobras desde 1999 e com varias empresas anunciando prejuízos em
grande parte devido a variação cambial, me pergunto: o Governo estaria disposto
a deixar o real se apreciar no quarto trimestre para dar algum alivio nos
balanços das empresas? Com a pior seca dos últimos 50 anos e a quebra de safra
nos EUA os preços dos grãos dispararam e haverá impacto no preço dos alimentos
no Brasil. Se o IPCA acelerar, o governo pretende utilizar a moeda para
controlar a inflação?
Em 14/05, em “Irmão, é preciso coragem”, escrevi que
continuava achando que o euro terminaria o ano acima de 1,20. Que naquele
momento (EUR 1,27) “Vender EUR contra USD parece o mais sensato no curtíssimo
prazo”. Após quase um mês na Europa, mantenho a opinião que 1,20 é um bom
piso para o final do ano. Não podemos esquecer de que há bancos centrais
importantes como o da Suíça dispostos a continuar lutando para evitar
apreciação excessiva de suas moedas e operando na ponta de compra do euro. Em
maio achava que os juros locais eram para baixo e USD para cima mas acreditava
na possibilidade de fecharmos o ano com um real abaixo do fechamento de 2011.
As chances agora são remotas, mas a possibilidade ainda existe considerando
todo o contexto macroeconômico e os recentes balanços divulgados impactados
pela desvalorização cambial.
À espera de novos estímulos econômicos pelo FED e BCE em
resposta aos fracos indicadores econômicos e dada as incertezas com os preços
das commodities e a fraca recuperação da demanda, faz sentido continuar vendido
em EUR e comprado em USD contra BRL. Quanto aos juros, a poupança
nunca pareceu tão atrativa aos olhos dos pequenos investidores.
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