segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Contra fatos não há fundamentos

Fiz esta analise na quinta-feira passada pela manha, mas ela ainda continua válida.

Os fundamentos da economia brasileira continuam bons. A renda das famílias continua crescendo, maior patamar de emprego na historia, investimento em infra-estrutura para as Olimpiadas e Copa (ainda que em ritmo lento) e crescimento do PIB muito acima das economias desenvolvidas. No cambio, o Investimento Estrangeiro segue considerável e a balança comercial superando as expectativas. Tudo indicaria uma economia forte com um cambio valorizado. Mas os fatos se sobrepõem aos fundamentos ...

Desde o inicio do mês a situação da Grecia piorou muito. Os CDS chegaram a mostrar uma situação de quase default. Se por um lado, as autoridades européias estão dispostas a evitar um default desorganizado da Grecia, por outro a politica tem dificultado a liberação das parcelas do plano de socorro. Estariam os europeus dispostos a assumir o “fracasso” do euro ou postergarão o quanto puderem em busca de um milagre?

Com uma Europa fragilizada e um BCE focado no combate a inflação, sobrou para o FED tentar acalmar o mercado com um possível range de política monetária discutidas durante dois dias de reunião. O mercado mostrou-se cético ao que o FED poderia fazer para afrouxar ainda mais a política monetária e vimos o inicio de uma desvalorização generalizada nas moedas por todo o mundo. A decisão do FED de ontem foi tímida e o impacto imediato foi apreciação do USD e uma queda acentuada na curva de juros de longo prazo, conforme esperado (T10Y a 1,777), levando-a a mínimos históricos.

No BRL, o movimento foi acentuado pela alta liquidez dos nossos mercados futuros, pela incerteza relacionada a queda nos juros, pela insegurança jurídica com a taxação de IOF na posição vendida em derivativos além das restrições às posições vendidas dos bancos no spot, CALLs vendidas OTM ficando ITM, redução de exposição de hedge funds e redução significativa da posição vendida dos estrangeiros na BM&F de USD 24bi em Julho para USD 7 bi ontem.

Dado todo o contexto internacional e local, acho que a situação ainda vai piorar um pouco antes de melhorar. Vejamos como a atuação do BC através de swap cambiais (vendendo USD) irá impactar o mercado.

Em 01/09, “It’s the politcs stupid” comentei: “Como disse recentemente, cuidado redobrado ao montar posição comprada em BRL (vendida nas outras moedas) acreditando em uma consistente e prolongada apreciação da moeda brasileira.” Nosso mercado cambial é muito assimétrico. Não é a toa que a CALL, em geral, é mais cara que a PUT. As chances de desvalorização são maiores que apreciação ainda mais com um BRL a 1,60.

Pensando no médio prazo, a economia americana dificilmente se recuperará rapidamente com um USD forte. Do mesmo modo Japão, Suiça e Europa terão problemas com suas moedas muito apreciadas. Em “06/09: Suiça defenderá paridade contra o EUR”, comentei da necessidade de maior coordenação entre os bancos centrais. Isto me remeteu à cena do mais recente filme “Planeta dos macacos”, quanto Cesar, o “macaco chefe” explica ao seu futuro conselheiro utilizando gravetos de arvore que “um macaco sozinho fraco, macacos unidos forte”. Ainda que os principais bancos centrais tenham anunciado uma atuação conjunta para prover liquidez na semana passada, é necessário uma coordenação muito maior ou tanto a política fiscal quanto a monetária serão ineficientes.

Resumindo: pressão de compra de USD no curtíssimo prazo contra o BRL (e outras moedas). Atuação do BC brasileiro necessária para prover liquidez na ponta vendedora com atenção especial à movimentação dos asiáticos. Se o BC não fizer nada e os fundos toshin começaram a zerar posições, é difícil saber até onde o BRL pode ir. Em maio e agosto, nas subidas do USD, estava confortável em vender (e deu certo). Mas faz duas semanas que este conforto se transformou em desconforto. Para o médio prazo, o USD deve voltar a perder um pouco de valor acomodando-se em um patamar superior ao registrado antes de agosto. As novas estimativas de diversos bancos e consultorias econômicas indicam um BRL entre 1,65 e 1,95 para o final de ano. Sinceramente, não tenho a menor idéia de onde o BRL irá se estabilizar mas o 1,53 (mínima do ano) parece bastante distante.

2 comentários:

  1. 1,95??? E avisar a amiga do outro lado do mundo que nao sabia nem que a Amy Winehouse tinha morrido e o Steve Jobs aposentado (soube dia desses) que o mercado virou, nada, ne? Assim voce nao vai entrar na dedicatoria do meu livro. ;) Fui fechar cambio dia desses e quase cai das costas. E quem disse que eu ainda tenho hedge cambial...? Me manda um inbox do Euro pro fim do ano, vai? bjao meu querido

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