quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Espanha e Itália sob ataque

Passei estes últimos dias e a noite de ontem tentando entender o movimento do spread dos títulos espanhóis e italianos. Os títulos de 10 anos da Espanha superaram os 400 bps com relação aos alemães, atingindo o pico histórico desde a criação do euro. Por quê? Espanha e Italia caminhariam para a insolvência na esteira de Grécia?

Particularmente não acredito nisto. Acredito que a situação Italiana seja ainda um pouco pior que a espanhola mas ambas são gerenciáveis. A relação divida/PIB na Espanha está abaixo de 70% e o governo tem adotado medidas duras para reduzir o déficit que continua alto mais em uma trajetória de queda. Mas e quanto a capacidade do Reino da Espanha de financiamento? Em minha opinião os custos subiram consideravelmente no curto prazo muitos mais por questões especulativas que estruturais. Os investidores forçam até onde podem para ver até onde as autoridades européias podem ir. E digo, elas podem ir longe, se quiserem. Com baixa liquidez em virtude das férias, os movimentos se tornam mais acentuados. Hoje a Espanha completará a única captação no mês de agosto e mesmo com as taxas em níveis recordes (acima de 6% para 10 anos), acredito que a demanda superará a oferta mesmo porque os 12 bancos que participam da emissão são obrigados a comprar cada um 3%, ou seja, 66% do total estão garantidos. Destes, 7 são espanhóis.

Mas e a economia espanhola com uma taxa de 20% de desemprego não está em maus lençóis? Sim e não. Historicamente a taxa de desemprego na Espanha é alta. Em 2008, quando estudava e morava lá pude entender um pouco melhor que a cultura, a família e a economia espanhola suportam taxas de desemprego mais altas. É claro que 20% preocupam mas não é o fim do mundo, ainda mais quando as ultimas estatísticas mostram melhora na margem neste indicador. Por outro lado, a Espanha tem uma economia bastante diversificada com grandes bancos e empresas muito internacionalizadas. Eu diria que eles se aproveitaram muito bem dos anos de vacas gordas para se espalharem pelo mundo.

Mas e os problemas políticos? Verdade. Zapatero perdeu a maioria no Congresso e convocou eleições antecipadas. Vimos como recentemente a política pode influenciar na economia pelo que aconteceu nos EUA. Certamente o governo perde agilidade e capacidade de atuação mas a sociedade não deixará de avançar nos temas essenciais até o final do ano.

Deste modo, considero este ataque especulativo à Espanha e Italia como passageiros. Continuaremos presenciando problemas quanto a situação fiscal na Europa sobretudo nos países periféricos mas em 2011 a chance de default por parte destas duas economias é mínima. O BCE, por sua vez, deve dar uma pausa na subida de juros frente a desaceleração na recuperação da demanda mundial. Logo, continuo trabalhando com um EUR valorizado frente ao USD até o final deste ano. Oscilações são, obviamente, naturais e esperadas.

Nos EUA, o USD seguirá fraco e os juros baixos. A economia não consegue deslanchar. Entretanto a Treasury para 10 anos abaixo de 2,7% me parece um pouco exagerada ainda que exista uma grande possibilidade do FED manter os juros baixos até final de 2012.

O BRL seguirá forte até o final do ano entretanto é difícil mensurar como nossa moeda se ajustará em um cenário de retirada de estímulos nos EUA e uma recuperação mais forte da economia americana. A tendência natural da moeda brasileira face a estrutura micro e macroeconômica é de desvalorização. É como lutar contra a gravidade. Você não pode vê-la, mas ela existe e você sabe que no final, não pode vencê-la. São as leis da natureza. Precisamos ser cuidadosos na crença que o BRL seguirá valorizando ininterruptamente. Lembremos de 2008 quando o BRL estava próximo deste patamar e os agentes acreditavam que a moeda seguiria valorizando e as apostas vendidas seguiram crescendo. Os fluxos internacionais secaram, o credito barato sumiu e o BRL explodiu. Hoje as condições são outras mas a historia nos ensina a ter cautela.

Para fechar com um trecho do texto do Belluzzo de ontem no valor: “A racionalidade microeconômica, é verdade, só realiza seus desígnios enquanto mergulhada no “consenso altista” que induz os protagonistas privados a acreditar na valorização continuada da taxa de câmbio. Diria um keynesiano de boa cepa que no mercado de câmbio brasileiro as expectativas altistas são largamente predominantes ... Os surtos eufóricos de liquidez fácil e de endividamento externo – acompanhado de elevação dos preços dos ativos (inclusive câmbio) – são seguidos de “crise de confiança” e ajustamento recessivos. Infelizmente, os movimentos de capitais são e sempre foram pró-cíclicos, para desgosto dos que acreditam em Papai Noel ou em modelos mais tolos do que inúteis.”

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