terça-feira, 18 de agosto de 2009

Analistas e o futuro

Imagine dois grupos de estudantes de pós-graduação. O primeiro grupo é informado que um de seus professores irá para a Europa durante um ano para um período sabático. A esse primeiro grupo de estudantes é pedido para que escrevam o que imaginam que o professor fará durante o ano que está por vir. Um segundo grupo de estudantes recebe a informação de que o mesmo professor já fez um ano sabático na Europa e a esses alunos pede-se para que descrevam o que imaginam que o professor fez durante aquele período.

À primeira vista, não esperamos que haja uma diferença grande entre os relatos dos grupos, por se tratar de grupos representativos e realizando praticamente a mesma tarefa. No entanto, as diferenças verificadas nos relatos dos dois grupos foram relevantes. Os relatos de um passado imaginário foram muito mais detalhados e ricos quando comparados às tentativas de descrever o futuro. Estas últimas, sempre vagas e genéricas. Tal estudo, conduzido pela psicóloga canadense Janet Bavelas, e outros experimentos demonstram que temos mais facilidade de imaginar o que alguém fez em oposição ao que alguém fará. Ou seja, há uma nítida assimetria entre nossa habilidade de explicar o passado e nossa capacidade de prever o futuro.

Uma vez que um evento tenha ocorrido, mesmo que seja algo extremamente raro, nós humanos temos facilidade de encontrar uma explicação plausível. Atentados terroristas como o de 11 de setembro de 2001 e grandes catástrofes aéreas são exemplos típicos, cujas sequências de eventos tornam-se bem conhecidas ao logo do tempo a ponto de serem facilmente assimiladas e até mesmo consideradas como previsíveis a posteriori. No entanto, mesmo na véspera, ninguém é capaz de prevê-los ou de evitá-los.

A teoria financeira comportamental denomina essa facilidade de explicar o passado de "viés retrospectivo" (do inglês, hindsight bias). A mídia financeira está repleta de especialistas sempre disponíveis para explicar os movimentos dos mercados no ano, mês ou na semana passada. Peça então para preverem o futuro e a explicação torna-se vaga e genérica, tal como no estudo acima. Qualquer pessoa consegue encaixar o passado em uma sequência de eventos perfeitamente racionais e intuitivos. Agora, prever o futuro é outra história.

Quão preciso é o mercado brasileiro na tentativa de prever o caminho que as principais variáveis econômicas e financeiras vão percorrer no futuro? Semanalmente, o Banco Central publica tais projeções no boletim Focus. Será que este conjunto de analistas consegue antecipar com alguma precisão e antecedência de 12 meses o PIB, a inflação, juros nominais e reais e o câmbio? Uma rápida olhada na diferença entre as previsões feitas 12 meses atrás e os valores efetivamente observados para essas variáveis revelam erros significativos, entre 40% e 12%. Além disso, para duas dessas variáveis, juros nominais e reais, a média das expectativas dos especialistas foi incapaz sequer de prever a direção em que elas iriam se deslocar. Há um ano, previam aumento dessas variáveis, quando na verdade vimos recuo significativo de ambas. A mesma tendência foi observada para os "Top 5", em princípio os mais precisos em suas previsões, ainda que com um desvio menor.

Muitos dirão que nesse período o mundo foi assolado pela crise financeira e que isso torna as previsões menos precisas. No entanto, para outros períodos no qual predominou maior normalidade (como entre 2003 e 2007), ou seja, sem uma crise tão grave, a margem de erro das previsões também revelou-se grande. No frigir dos ovos, o que mexe com o mercado é exatamente o inesperado! Tudo que é previsível e aguardado não altera as cotações. Já está em grande medida embutido nas expectativas das variáveis econômicas e nos preços dos ativos. A oportunidade de ganhos está em antecipar o que os demais ainda não veem, em fazer isso mais rápido e de maneira mais eficiente que os demais e em traduzir isso em posicionamentos nos ativos certos, na "ponta" certa (comprado ou vendido) antes que os demais o façam. Nesse aspecto, o boletim Focus do Banco Central atua mais como uma fotografia do sentimento reinante na economia em determinado momento do que como uma fonte confiável de previsões desses indicadores ou mesmo da tendência que deverão assumir no futuro.

Durante o planejamento de voo da missão Apollo 11 para a lua, a NASA definiu como margem aceitável de erro nas primeiras estimativas e cálculos em 1961 o nível de 1%, que foi então reduzido para 0,5%, 0,2% e, finalmente 0,05% em 1969, ano do famoso primeiro vôo à lua. Se a NASA precisasse contar com a precisão das previsões do boletim Focus, o voo da Apollo 11 provavelmente não teria alcançado a altura de um balão de festa junina...

Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais e superintendente executivo comercial do Santander Asset Management. É autor dos livros "Investimento sob medida" e "Finanças Comportamentais".

E-mail: aquiles.mosca@bancoreal.com.br

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Futex

Boas ideias devem ser divulgadas. Quer aprender como funciona o mercado de ações? Una sua paixão por futebol, torcida e lazer. www.futex.com.br

"O mercado de capitais é um conceito relativamente novo para o brasileiro. Nas manchetes de revistas e jornais, podemos ver grandes investidores multiplicando seu patrimônio através deste mundo aparentemente complicado. Porém, o seu funcionamento é muito mais simples do que se imagina.

O propósito do Futex – Futebol Exchange é desmistificar este conceito. E para isso, adaptou o funcionamento de uma bolsa de valores com o lazer preferido do brasileiro: o Futebol.

O Futex é o 1º simulador de bolsa de valores do Brasil onde é possível negociar ações de Times de Futebol. É uma forma de entretenimento 100% virtual. Nele o usuário pode comprar e vender ações de seus times favoritos,acumulando pontos com suas vitórias na vida real. O seu desempenho será refletido pelos rankings e pelos incríveis prêmios queirá receber do site."

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Aposta "Irracional" no Real

Esta semana li uma interessante reportagem no Valor a sobre a valorização do real. Como o tempo está curtissimo, alguns textos conseguem sintetizar bem determinados pontos de vista pessoais.

"Diante do fim da recessão e o início de uma recuperação da economia brasileira, há dois tipos de reação dos investidores. Uma é boa. A outra, preocupante. A primeira refere-se ao otimismo dos estrangeiros que mantiveram e estão aumentando os investimentos diretos (IED) no Brasil, numa avaliação mais consistente e de mais longo prazo que é bem-vinda. A segunda trata da euforia que se reflete nos mercados financeiros e que se expressa nos preços dos ativos. Esta preocupa o governo e explica a declaração do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anteontem, no Senado, quando aconselhou os investidores a botarem os "pés no chão" e evitarem "o exagero e a euforia na precificação de ativos".

O governo está realmente preocupado com o que entende ser uma "aposta irracional no real": uma taxa de câmbio de R$ 1,60 a R$ 1,70 ao fim deste ano, num processo acentuado de valorização. "Isso vai e volta", assinalam as fontes oficiais, chamando a atenção para os danos da volatilidade e para o potencial de prejuízos que isso pode acarretar. Dentro do governo há a avaliação de que a apreciação recente do real tem um componente de especulação.

Quando a taxa de câmbio, no passado, chegou a bater em R$ 1,56, o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos começou a crescer, assumindo uma trajetória que o Banco Central considerou insustentável, na época, e o dólar se valorizou novamente, lembram essas fontes. "O mercado está apostando nisso de novo?", indagou, apreensivo, um influente economista do governo.

Acredita-se, na área econômica, que o excesso de otimismo no mercado de ações, no de câmbio, e um pouco também nos preços de commodities, agora, também é insustentável. Se essa avaliação estiver correta, haverá uma reversão e esta poderá produzir turbulências desnecessárias decorrentes de prejuízos dos investidores que fizeram apostas erradas, unilaterais. Está ainda fresco na memória dos economistas do governo o drama dos derivativos cambiais que, no ano passado, levou várias empresas no país a prejuízos bilionários e a uma situação delicadíssima. Seria muito ruim ocorrer algo semelhante justamente na hora em que se inicia a recuperação econômica, apontam esses analistas.

Nesta semana Meirelles declarou que chegou ao fim a recessão técnica no país. Indicadores antecedentes levam o governo a prever que, no segundo trimestre deste ano, a economia cresceu entre 1% e 2% sobre o primeiro trimestre, em linha com as projeções do mercado. Ao fim deste ano, o crescimento pode ficar próximo de zero a ligeiramente positivo e, em 2010, o país cresceria algo como 4%. Tais perspectivas não são suficientes, avaliam essas fontes, para sancionar a euforia dos mercados.

O governo, em geral, e a autoridade monetária, em particular, têm pouco a fazer em momentos de "exuberância irracional". Ele pode alertar, como fez o então presidente do Federal Reserve (Fed), Alan Greenspan, há 13 anos, pouco antes da crise asiática, e fez anteontem o presidente do BC brasileiro. Pode e deve conduzir uma política monetária responsável. Embora já haja quem enxergue nas políticas de juros muito baixos e mesmo negativos do mundo desenvolvido um incentivo à formação de bolhas, esse não é o caso do Brasil. Aqui, os juros caíram 5 pontos percentuais de janeiro até agora, mas a taxa Selic de 8,75% ao ano ainda é bastante razoável, em termos reais.

É muito difícil delimitar onde terminam as expectativas otimistas, porque o país está com bons fundamentos e a recuperação será mais rápida e mais intensa do que nos países desenvolvidos, e onde começa a euforia movida por exageros. "Crescer zero ou 1% este ano e 4% no ano que vem não justifica tanto otimismo, não justifica perder a cabeça", comentou uma fonte qualificada do governo.

Ou seja, não é simples identificar onde está se formando uma bolha. Vários economistas, ao analisar a crise das hipotecas americanas (os subprimes), que se transformou numa crise econômica global, disseram que quando há, de fato, uma formação de bolha, todo mundo acaba sabendo.

O Banco Central, até onde a vista alcança, já enxerga exageros nas apostas do mercado, sobretudo em relação ao real, mas também nos demais ativos. O problema não se limita a eventuais prejuízos que uma reversão nesses mercados pode trazer a uma ou outra empresa. A fonte de preocupação é com os efeitos que perturbações dessa natureza podem gerar na economia real, principalmente numa hora em que há sinais de recuperação, mas estes ainda são frágeis. "

Claudia Safatle é diretora de redação adjunta e escreve às sextas-feiras
 
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