Escrevi este texto no dia 14/05/12, mas vale a leitura!
Irmão, é preciso coragem ...
Irmão, é preciso coragem ...
(Milton Nascimento)
Coragem! Quando Dilma anunciou a mudança nas regras da poupança no dia 03/05, lembrei desta música do Milton Nascimento! É preciso muita coragem para mudar uma regra centenária em um instrumento financeiro considerado de máxima segurança pela população. Só compra uma briga desta, quem tem certeza de onde quer chegar.
Em 12/03/12, “Two Targets, Two Instruments”, escrevi: “Enquanto FHC ficou conhecido como responsável por acabar com a inflação e Lula como o pai dos pobres (aumento expressivo da classe C), Dilma quer ficar conhecida como a responsável por derrubar os juros no Brasil. A questão dos juros é um dos grandes paradigmas da economia brasileira e se olharmos o mundo há espaço para quedas adicionais em um contexto desinflacionario de curto prazo, ainda que existam preocupações relevantes com a inflação no médio prazo em virtude do tamanho “nunca antes na historia” dos balanços dos bancos centrais mundo a fora. Estamos diante de uma mudança no patamar de juros no Brasil? Podemos sentir saudades de uma NTN-F 21 a 11,16% ao ano.”
Hoje a NTN-F 21 está a 10,26% e a LTN 14 8,51%. Nada mal, olhando o futuro. Depois de todos estes eventos ocorridos no mercado de juros doméstico, estamos diante de uma guinada histórica a juros ainda mais baixos. Este será o grande legado de Dilma.
Na época o USD estava 1,83 e hoje chegamos aos 2,00. Quem poderia imaginar que o real se desvalorizaria tão rápido? Talvez a autoridade monetária. Talvez eles já tenham definido um target para a taxa de cambio e o mercado queira testar qual é. Assim que o BC entrar vendendo USD, saberemos onde o Governo que chegar. Por isto acho que o BC entrará caso a volatilidade aumente muito rapidamente. A imprevisibilidade é um poderoso mecanismo cambial. Dizem que o artigo do FMI “Two Targets, Two Instruments“ virou texto de cabeceira do Mantega. Como colocado no texto em 02/03/12, “Tsunami Monetario”, “Por mais que a tendência seja de apreciação do BRL, os discursos e as medidas anunciadas ontem mostram a determinação das autoridades brasileiras em suportar o BRL a 1,70 ou pelos menos reduzir a velocidade de apreciação da moeda brasileira. Tombini disse com todas as letras que o BC continuará com a estratégia de acumulação de reservas. “O BC nunca abandonou essa estratégia, mesmo nos momentos em que saiu do mercado nos últimos meses. O BC sempre confirmou que, as condições de mercado permitindo ou exigindo, o Banco Central interviria e continuaria com a acumulação de reservas.” É preciso coragem para tomar grandes posições vendedoras em USDBRL neste momento.”Repito: “keep your eye on the ball”.
Agora vamos ao novo que sobre o passado basta reler os textos anteriores. Do mesmo modo que é preciso coragem para lutar contra os juros altos no Brasil, será preciso muita coragem dos políticos europeus para seguir com os planos de austeridade. E acho que faltará coragem diante de tantas pressões populares. Os fatos mudaram na Europa com a eleição de Hollande e com a dificuldade da Grecia em montar um governo de coalizão. Nem mesmo a Holanda está livre das dificuldades políticas. A Europa precisará de mais Margaret Thatcher durante esta fase, com coragem para tomar medidas impopulares de curto prazo em prol da uma economia mais saudável no longo prazo. E, como seres humanos limitados, temos muita dificuldade em pensar no futuro, usando uma taxa de desconto muito alta para trazer os benefícios para hoje, dando muito mais valor ao presente. Em Psicologia Economica, chamamos isto de desconto hiperbólico.
Voltando a Europa, embora eu continue achando que o euro terminará o ano acima de 1,20, já não estou tão seguro de que um ou mais paises abandonem a moeda única. Não é apenas no Brasil que políticos são conhecidos por tomarem decisões estúpidas. Dada a nova composição do parlamento grego, o que era possível, virou provável. Por sua vez na França, o novo governo socialista quer rever o pacto de austeridade que sequer ainda foi votado por todos os parlamentos nacionais. Além disto, o premio de risco na Espanha alcançou novo patamar histórico (chegou a tocar os 490 pontos), como demonstrado no gráfico abaixo. Muito além de fatos econômicos, são os movimentos políticos que trouxeram nova instabilidade temporária ao euro. E com isto, não dá para argumentar. Vender EUR contra USD parece o mais sensato no curtíssimo prazo.
E o que esperar do USD? Mantega disse o seguinte hoje: “O dólar alto beneficia a economia brasileira, pois dá mais competitividade aos produtos brasileiros. Significa que a indústria brasileira pode competir melhor com os produtos importados, que ficam mais caros, e pode exportar mais barato para o exterior. Portanto, não preocupa", declarou Mantega.” Logo, USD para cima. Até quando? Até quando a inflação e suas expectativas se mantiverem abaixo do topo da meta.
Meu principal ponto aqui é com a inflação. Se o IPCA acelerar e o USD se mantiver acima de 2,00, o Governo lançara mão de medidas macroprudenciais ou mesmo voltará a elevar os juros? Além da intervenção na ponta de venda, o governo irá retirar algumas medidas implementadas recentemente como o IOF sobre os derivativos e as restrições às linhas de pré pagamento?
Se a inflação acelerar acho que governo iniciará o ciclo de aperto monetário via medidas macroprudenciais antes de retomar um ciclo de alta de juros. Para ajudar no controle da inflação, as autoridades monetárias deverão afrouxar um pouco as restrições cambiais a fim de dar algum alivio para o BRL que deve voltar a se apreciar. Na minha cabeça ainda trabalho com um BRL mais baixo para dez/12 que o fechamento de dez/11 (1,8758), acreditando que melhores fundamentos macroeconomicos terão maior influencia no segundo semestre deste ano. Enquanto isto, juros para baixo, USD para cima. Irmão, é preciso coragem ...