segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Feliz Ano Novo !!!

 
Cortar o tempo
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente
Carlos Drummond de Andrade
 
Para fechar o ano de 2013 com uma mensagem otimista, o governo anunciou o aumento do IOF para 6,38% nas operações de cambio com cartão pré-pago. Enquanto tentava ouvir o discurso da presidenta, fazia uma retrospectiva de todas as outras medidas implementadas pelo Governo neste ano. A primeira frase do discurso me deixou confuso. “Graças ao esforço de todas as brasileiras e de todos os brasileiros, o Brasil termina o ano melhor do que começou. Temos motivos também para esperar um 2014 ainda melhor do que foi 2013.” Será mesmo?
 
Mas o trecho que mais chamou minha atenção foi o seguinte: “O mesmo raciocínio se aplica à nossa economia. Assim como não existe um sistema econômico perfeito, dificilmente vai existir em qualquer época um país com economia perfeita. A economia é um conjunto de vasos comunicantes em busca permanente de equilíbrio. Em toda economia sempre haverá algo por fazer, algo a retocar, algo a corrigir para conciliar o justo interesse da população e das classes trabalhadoras e os interesses dos setores produtivos. Por isso, temos que agir sempre de forma produtiva e positiva tentando buscar soluções e não ampliar os problemas. Se alguns setores, seja porque motivo for, instilarem desconfiança, especialmente desconfiança injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas.
 
Ora, se temos que agir buscando soluções e não a ampliação de problemas, o governo está indo na direção errada. Vemos cada vez mais medidas complicando a vida da população, dos empresários e dos investidores.  Particularmente, estou bastante preocupado com a economia em 2014. Parafraseando o Lula, gosto de reforçar que estamos vivendo um momento nunca antes visto na historia. No mundo, os balanços dos bancos centrais nunca foram tão grandes e os estímulos nunca tão profundos. Nem Ele deve saber quais serão as consequências da retirada dos estímulos pelo FED e por outros bancos centrais dada a complexidade do gerenciamento das variáveis macro e microeconômicas. Ao mesmo tempo, nunca antes na historia, vimos no Brasil Copa do Mundo e eleições presidenciais no mesmo ano. Além disto, o governo diz uma coisa e faz outra, minando a confiança dos agentes econômicos. Ainda que as concessões e privatizações tenham avançado, os estímulos do lado dos investimentos parecem poucos para superar todos os aspectos negativos ao redor da economia brasileira. 
 
Em abril, na primeira e única vez que escrevi neste ano (infelizmente), comentei: “Com um mercado de trabalho apertado, taxa de investimento baixa e a economia crescendo pouco, o governo deverá priorizar crescimento pelo menos até as próximas eleições. Neste contexto, acredito em um real mais fraco, ou seja, governo continuará lutando para manter o câmbio acima de 1,95 por todo ano com tendência de desvalorização no segundo semestre se a inflação se comportar e o crescimento patinar.” 
 
Nem os mais pessimistas poderiam acreditar em um real próximo a 2,35 e uma curva pré acima de 12% para 2017 enquanto no começo do ano tínhamos real a 2,04 e pré abaixo de 8,5%. O mercado é soberano e sempre nos ensina a acreditar no inacreditável !!! Nassim Nicholas Taleb e seus cisnes negros continuam nos mostrando que o imprevisível e o improvável acontecem com maior frequência do que poderíamos imaginar. Alias, para 2014 pretendo ler o livro mais recente dele: Antifragile !!! 
 
Considerando todo o contexto brasileiro e internacional, é difícil não acreditar em um real mais desvalorizado para 2014. Em momentos de stress, não me surpreenderia ver um real acima de 2,5 e mesmo com uma taxa próxima a isto no final do ano dependendo dos resultados das eleições e das ações do FED  para a retirada dos estímulos. 
 
Voltando ao discurso da Dilma, gostei da ultima parte: “O Brasil tem passado, tem presente e tem muito futuro. Existem poucos lugares no mundo onde o povo tenha melhores condições de crescer, melhorar de vida e ser mais feliz. É isso que sinto Brasil afora, é isso que sinto coração adentro. Um ano novo cheio de felicidade e prosperidade para vocês e de muito progresso e justiça social para o Brasil. Obrigada e boa noite.”  
 
Falando em discursos de final de ano, vale a pena o comparativo com a mensagem de Natal do rei da Espanha. Deixando de lado nossas convicções políticas a favor ou contra a Monarquia, o discurso parece bastante coerente para um chefe de Estado (http://www.casareal.es/ES/Actividades/Paginas/actividades_actividades_detalle.aspx?data=11760)
 
“Quiero, por eso, empezar mis palabras con un saludo especialmente afectuoso a aquellos a quienes con más dureza está golpeando esta crisis: a los que no habéis podido encontrar trabajo o lo habéis perdido durante el año que va a terminar; a los que por circunstancias diversas no podéis disponer de una vivienda; a los jóvenes que no habéis podido encauzar todavía vuestra vida profesional; a todos los que habéis soportado tan duros sacrificios con coraje, y a quienes lucháis con vuestros mejores esfuerzos por hacer realidad vuestras legítimas aspiraciones.”
 
Pessoalmente, o ano de 2013 será inesquecível. Dentre tantas coisas boas, corri minha primeira maratona, em Chicago, abaixo de 4 horas. Que venha a segunda maratona em 2014 !!!
 
Um feliz ano novo para vocês e para suas famílias !! Muita saúde, paz e felicidades neste ano que se inicia !!!

domingo, 28 de abril de 2013

SELIC subiu e o TOMATE caiu ...


A subida frenética do preço do tomate chamou a atenção da imprensa e virou piada nacional. No dia 07/04, fui ao supermercado e o tomate estava a R$ 9,98 kg. Depois da reunião do COPOM em que decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,25%, o preço do tomate despencou para R$ 3,98 em uma rápida resposta do mercado a política monetária contradizendo assim a teoria de que são necessários alguns meses para alteração de juros surtir efeito na econômica real.
                                                             
Foto de 07/04/13        

      


Foto de 20/04/13

Brincadeiras à parte, o banco central definitivamente mudou o tom do discurso. Como não se faz política monetária apenas com discursos, o COPOM agiu para conter as expectativas e subiu a SELIC em 0,25%. A divulgação da ata do COPOM ontem pela manha sinalizou a preocupação com a inflação sob diferentes óticas e deixou as portas abertas para elevações superiores a 0,25%. Tal ideia foi corroborada pelo diretor de política econômica ao final de um evento ontem em São Paulo. Tive a oportunidade de estar presente quando Carlos Hamilton, na ultima frase do evento disse: “Cresce em mim a convicção de que o COPOM poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política monetária, a taxa SELIC”. Ele disse obrigado e o evento acabou.

Em um cenário em que o banco central do Japão ligou a maquina de impressão de dinheiro para trabalhar 36 horas por dia em busca de 2% de inflação,em um contexto global ainda de recuperação lenta e relaxamento monetário e os juros com tendência de alta no Brasil, o governo terá bastante trabalho em manter o real acima de R$ 1,95. Lembrando apenas a frase dita em fevereiro pelo Fernando Pimentel, Ministro do Desenvolvimento: “Vai ficar por aí, nesse universo em torno de R$ 2. O câmbio a R$ 1,96 está em torno de R$ 2, a R$ 2,05 está em torno de R$ 2. Claro que, para o sujeito que exporta, faz diferença entre R$ 2,05 e R$ 1,96, mas ele tem de ter hedge, aí é o risco do mercado, do câmbio flutuante. ... É flutuante, porém vigilante, uai. Estamos vigiando para ele ficar nisso aí, para não cair muito, nem subir muito.” Além disto, ontem o Carlos Hamilton comentou que o BC trabalha com um cenário de cambio estável. Em minha opinião, o governo parece disposto a não deixar a inflação sair do controle, cambio estável/desvalorizado, juros baixo e política fiscal expansionista. Na vida real, é difícil a execução desta estratégia.

Continuo preocupado com a expansão da demanda e acredito estarmos próximos ao limite de endividamento das famílias. Com um mercado de trabalho apertado, taxa de investimento baixa e a economia crescendo pouco, o governo deverá priorizar crescimento pelo menos até as próximas eleições. Neste contexto, acredito em um real mais fraco, ou seja, governo continuará lutando para manter o câmbio acima de 1,95 por todo ano com tendência de desvalorização no segundo semestre se a inflação se comportar e o crescimento patinar.
 
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