sábado, 25 de abril de 2009

O facticius da poupança

A poupança é o "produto financeiro" ou forma de aplicação mais popular que existe no Brasil. É praticamente impossivel conhecer alguem que desconheça a poupança. Logo, fazer qualquer tipo de alteração nesta modalidade de aplicação causa reações imediatas no público. Lembremos do "confisco" no Plano Collor. A poupança virou um fetiche, facticius em latim.

Com a redução recente da SELIC (conhecida como a taxa básica de juros para a economia), a atratividade da poupança aumenta. Com a crise financeira internacional e a desaceleração da economica brasileira, a tendência é que a SELIC seja reduzida ainda mais e atinga a casa de um dígito. Para que a redução da SELIC possa continuar é necessario que a rentabilidade da poupança seja alterada. Por que? Hoje a SELIC está em 11,25%. Com expecativa de corte de 1% na próxima semana, chegria aos 10,25%. Neste nível a poupança já se tornaria mais atrativa do que os fundos que cobram mais de 3% de taxa de administração.

Sendo mais atrativa, haveria uma migração de recursos dos fundos para a poupança. Com dificuldade para se financiar vendendo títulos, o governo encontraria um nivel minimo de rentabilidade pelo qual não conseguiria passar. O mercado estima que este mínimo esteja próximo aos 9%.

Ceteris paribus, tudo o mais mantido constante no "economês", não é interessante para as instituições financeiras esta migração em massa para a poupança pois haveria uma forte perda de receitas das taxas de administração dos fundos de renda fixa.

Para os aplicadores, a migração reduziria a perda de rentabilidade uma vez que a rentabilidade mínima da poupança é de 6% ao ano, livre de impostos. Com a alteração, a rentabilidade seria reduzida, criando desistimulos a esta migração.

Por fim, para o governo os efeitos são ambiguos. Deixando a poupança como está, o governo teria dificuldades em abaixar os juros, bem como financiar sua divida. Além disto, perderia a receita do imposto de renda gerada pelos fundos. Por outro lado, aumentariam os recursos para o crédito habitacional.

Mexer neste vespeiro pode ser perigoso politicamente pois desgastaria a imagem do presidente "mais popular do mundo". Imaginem, "Lula mexe na poupança e reduz os ganhos dos trabalhadores".

Basicamente há 3 idéias de como alterar a rentabilidade da poupança: 1) alterar a TR; 2) atrelar a rentabilidade a SELIC ou 3) definição periodica da rentabilidade por parte do Conselho Monetário Nacional (CMN). Alterar a TR impacta diretamente nos custos do financiamento habitacional, tornando mais barato ou mais caro. As duas outras opções trariam muitas incertezas para os aplicadores, reduzindo a tradicional "segurança" da poupança.

Aos finalmente, ganha força a ideia de trabalhar com rentabilidades diferentes para determinadas faixas de valores. Como 90% dos aplicadores tem menos de R$ 20 mil aplicados, a ideia seria deixar uma rentabilidade maior até esta faixa e reduzir para os valores maiores, incentivando a aplicação nos titulos do governo e fundos de renda fixa. A cada dia, uma alteração estrutural no sistema de poupança torna-se mais necessária caso a economia realmente caminhe para uma taxa de juros de equilibrio mais baixa. Acompanhemos o desenrolar dos próximos capitulos.

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