quarta-feira, 22 de julho de 2009

Madofi ganhou na mega sena

Abaixo segue uma interessante historia de vida e a importancia do conhecimento financeiro. Parabens ao Waldir pelo excelente texto.

Marco Donostio Filho teve uma infância e juventude bem aventurada, seu pai, migrante italiano, foi um cafeicultor que até os anos 90 viveu um bom período de prosperidade. Esta prosperidade propiciou à família um padrão de vida de classe alta, todos os filhos de Marco Donostio estudaram em boas escolas, mas infelizmente no ano de 1989, uma geada acabou com os cafezais. Marco foi obrigado a pegar empréstimos em bancos e acabou por se afundar em dívidas que o levaram a vender a fazenda de café e ficar com um pequeno pedaço de terra para dar sustento a seus quatro filhos e esposa, interrompendo assim, o prosseguimento dos estudos de seus filhos. Marco Donostio Filho, o mais velho da prole, à época estava se preparando para ingressar na Universidade de Agronomia. Teve que abandonar o cursinho preparatório por falta de recurso, passando a ajudar seu pai na lavoura e no sustento da família.

Foram tempos difíceis.

Os anos se passaram, Marco Donostio Filho se casou, constituiu uma família com três filhos, dois homens e uma mulher e depois que seu pai faleceu e seus irmãos seguiram outros caminhos, foi trabalhar e ser caseiro de um haras, levando sua família e sua mãe. Seu patrão se chamava Marco também, Donostio era um nome muito difícil de ser pronunciado pelos peões e Filho não soava bem, foi então que a peãozada criou o apelido pelo qual era conhecido até mesmo pelos patrões, Madofi. Quando surgiu o escândalo do Madoff americano, foi motivo de muitas piadas e gozações de alguns amigos de seu patrão que frequentavam o haras.

A vida melhorou um pouco, seu patrão era um bem sucedido participante do mercado financeiro e isso lhe propiciou nos finais de semana e feriados, ouvir conversas de frequentadores do haras sobre mercados e investimentos.

"Investimentos mágicos não duram para sempre, O Madoff norte-americano que o diga!"Interessou-se tanto pelo assunto que pediu permissão ao patrão para usar o computador e a internet nos dias de semana para estudar e realizar algumas pesquisas.

Madofi costumava fazer sua fezinha na mega sena, jogava sempre os mesmos números, a idade de seus filhos, 15, 13 e 6, a idade de sua esposa 37, sua idade 43 e, como não tinha o número da idade de sua mãe, 80, jogava o ano de nascimento, 28. Jogava sempre esses números e mais duas combinações na surpresinha.

Numa tarde chuvosa de uma segunda-feira estava arrumando uns papéis e contas para pagar, resolveu conferir sua aposta. Quando viu os números, 9, 13, 16, 26, 42 e 46, pensou que mais uma vez não tinha feito nem um terno, mas quando conferiu toda aposta viu que acabara de ganhar R$ 25 milhões e alguns trocados. Naquele concurso da mega teve apenas um ganhador e foi Madofi.

A partir deste dia Madofi passou a ter um grande problema a resolver: Como ajudar seus irmãos, sua família, tios e tias e construir um conforto financeiro para o futuro de seus filhos?
Se não tomasse cuidado, gastaria tudo rapidamente, investiria em negócios mal sucedidos e voltaria onde estava há até poucos dias atrás.

Pensou no insucesso como agricultor de seu pai, nas conversas que costuma ouvir dos visitantes do mercado financeiro no haras, e então, decidiu por conta própria aprender sobre investimentos usando a internet.

Deixou quase todo o dinheiro do prêmio aplicado na CEF, pediu sigilo total e foi estudar a melhor forma de investir. Apesar de só ter completado o segundo grau nos estudos adquiriu uma experiência de vida que não lhe permitiria cometer os erros que muitos investidores cometeram nos últimos tempos e Madofi acompanhou pela internet e nas conversas dos amigos de seu patrão.

Seis meses depois, aprendeu muita coisa sobre investimentos, ficou fascinado por juros compostos e seduzido por aplicações em bolsa de valores.

Chegou então a hora de aplicar os conhecimentos, e o dia não poderia ser mais propício: 22 de julho de 2009, data da divulgação da taxa de juros pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, o chamado Copom.

Por tudo que Madofi aprendeu com a vida, com a quebra de seu pai, tudo que leu, ouviu e estudou e a observação dos últimos acontecimentos econômicos, sabia que essa reunião do Copom era importante, mas não fundamental para definir seus investimentos.

Comprar CDBs de bancos não iria. Outro dia esteve em um banco assuntando investimentos e o gerente recomendou que comprasse CDB, que agora tem uma garantia do governo federal ou então aplicasse em alguns fundos de investimentos.

Madofi pensou: oras, se a garantia do CDB é dada pelo governo federal a aplicação em títulos do governo é muito mais garantida. Se meu ex-patrão e seus amigos ganham comissão para administrar o dinheiro dos outros é porque quem aplica com eles não estudou o tanto que estudei para aprender, deixam para os outros aplicarem seus recursos por falta de conhecimentos - Tou fora! - frase que costumava ouvir a beira da piscina do haras quando um "figurão" daqueles dava uma recusa.

Depois de acompanhar o debate, que estranhamente saiu da mídia, sobre a rentabilidade da poupança e a dos demais investimentos com a queda na taxa básica de juros, Madofi já estava decidido.

Iria aplicar R$ 5 milhões em ações, 60% em Petrobras e 40% em Vale do Rio Doce, não quer muito risco por não precisar correr desesperadamente atrás de uma fortuna que ele já possui, mas também quer investir em bolsa em longo prazo, para acompanhar de vez em quando e por acreditar nessas duas empresas de futuro promissor. Dos R$ 15 milhões restantes, R$ 4 milhões usaria de imediato para ajudar seus familiares e comprar uma pequena propriedade para realizar seu sonho de ter um cultivo de pimentas para comercializar.

Os R$ 11 milhões vão para os investimentos mais seguros e rentáveis que avaliou: R$ 3 milhões em LTNs, com vencimento em 01/07/2011 a taxa de 10,50% ao ano; R$ 8 milhões em NTN-B com vencimento em 15/08/2024 a taxa de IPCA, mais 6,40% ao ano.

Se educando financeiramente Madofi descobriu muita coisa.

Descobriu que não existem investimentos com retornos mágicos.

Que rendimentos passados não são parâmetros para avaliação de rendimentos futuros. E o mais importante, que o deixou muito surpreso, foi o fato de se discutirem tanto sobre tributação, taxação da poupança, taxa de administração de recursos e outros assuntos relacionados ao novo patamar do juro básico e uma aplicação como em NTN-B ainda render inflação mais 6,40% ao ano por um prazo tão longo e com garantia federal.

Se por um infortúnio ele perder os R$ 9 milhões que investiu em bolsa e na propriedade, for obrigado a gastar os cerca de R$ 3,5 milhões aplicados em LTNs, em 2024 ele terá seus R$ 20 milhões, mais a inflação do período corrigida, no resgate da NTN-B em 2024.

Madofi ficou feliz com seus investimentos, no entanto, ao se tornar uma pessoa mais lúcida em relação à realidade financeira brasileira, ficou um tanto aborrecido e questionou:

Como pode um país remunerar uma aplicação financeira a uma taxa tão alta, por tão longo tempo como as aplicações em NTN-Bs?

Como pode o setor bancário cobrar um juro tão alto na taxa de empréstimos?

Com uma taxa de juros deste tamanho por um período tão longo só investe na produção quem quer correr muitos riscos. E com uma taxa de empréstimos desta magnitude mais dia menos dia, numa crise dessas qualquer, os emprestadores não vão receber de ninguém, pois quem toma empréstimo a mais de 100% ao ano é porque tem grande chance de quebrar.

Investimentos mágicos não duram para sempre, mais hora menos hora, vão todos pro vinagre, O Madoff norte-americano que o diga!

Há 35 anos no mercado financeiro, Waldir Kiel Junior é economista e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
waldir.kiel@infomoney.com.br

sábado, 11 de julho de 2009

Livro: O lobo de Wall Street

Já faz um dois meses que terminei de ler este livro e li alguns outros na sequencia. Não vou conseguir escrever uma sintese completa deles, então vou resumir a sintese para manter a leitura atualizada (rs).

O Lobo de Wall Street de Jordan Belfort é uma auto-biografia, escrita por um famoso trader do mercado financeiro americano. Na verdade ele está mais para corretor ou dono de uma corretora. Fez fortuna lançando ações em bolsa, manipulando seus preços, burlando a legislação. Ganhava fortunas durante o dia e torrava dinheiro durante a noite, com mulheres, bebidas e drogas. Acabou numa clinica para dependentes e depois de sair foi preso. Relato interessante de quem chegou no auge e caiu. Desnuda o lado sombrio do mercado financeiro americano, ou pelo menos parte dele.

Transformando Suor em Ouro do Bernardinho é leitura obrigatoria para quem gosta de seu estilo de liderança. Embora duro, é um grande lider, motivando e protegendo seu time. Buscar extrair o melhor de cada um através de muito trabalhado e suor. A recompensa? Vitorias e mais vitorias.

O Menino do Dinheiro de Reinaldo Domingos é um livro de educação financeira voltado para crianças. De forma simples consegue abordar temas como orçamento, poupança, sonhos, numa linguagem acessivel para o publico infantil. Se seu filho gosta de ler, compre este livro para ele.

Numerati de Stephen Baker aborda a nova era da informação. Em que modelos cada vez mais complexos tentam representar o comportamento humano. Se antes era necessario que alguem te perguntasse quais eram seus desejos, o que gostaria de comprar, para onde gostaria de viajar e tantas outras coisas para personalizar a venda, vivenciamos cada vez mais a realidade de que as empresas podem descobrir estas coisas analisando suas compras atraves do cartao de credito, debito, bem como sua navegação na internet. Quais foram suas ultimas pesquisas? Quais sites entrou? Sobre o que leu? Por onde navegou atraves dos cliques nas propagandas. Enfim, aqueles capazes de trabalhar com os numeros (fisicos, estatisticos, matematicos, economistas) dominarão as diversas áreas do saber.

Por ultimo, em Mar sem fim, Amyr Klink conta a historia de sua navegação em torno do circulo polar antartico. Não é um livro fantastico mas dá satisfação em ver alguem realizando seu sonho, sozinho por dezenas de dias no mar. Suas reflexoes solitarias, feitas em temperaturas extremamente baixas, são excelentes. Neste livro há uma de minhas citações preferidas:

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece, para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver".

Il faut aller voir.

Poupança ! Ficar ou mudar?


Nas ultimas semanas, graças ao portal
Finanças Pessoais, tenho recebido muitas perguntas sobre a melhor aplicação para quem tem quantias pequenas e grandes aplicadas na poupança. Ficar ou mudar?

Deixando os calculos financeiros e as explicações conceituais de lado, vamos ao que interessa:

Até R$ 3 mil? Poupança. Embora possa conseguir rentabilidade um pouco maior em CDBs ou mesmo fundos, o tempo investido buscando não compensa.

Tem até R$ 5 mil e não quer dor de cabeça e segurança? Invista em Poupança. Rentabilidade garantida, sem imposto de renda e simples para aplicar.

Tem acima de R$ 3 mil e quer buscar rentabilidade maior? Ligue para o seu gerente e pergunte:

1) Tem algum fundo de renda fixa com taxa de administração menor ou igual a 1%?
2) O CDB pós fixado com prazo superior a 30 dias paga quando?

Se a resposta para a pergunta 1 for Sim ou para pergunta 2 for um valor acima de 90% do CDI, vale a pena mudar.

Para valores acima de R$ 5 mil, busquem rentabilidades maiores, principalmente se pretendem ficar com o dinheiro investido por mais de 1 ano. Com os juros cada vez mais baixos, 1% de diferenca ao ano ao longo de vários anos resulta numa perda de rentabilidade consideravel. Por tanto, busque migrar para CDBs, Fundos ou Titulos Publicos (Tesouro Direto).

Se precisarem de alguma ajuda, continuem encaminhando as duvidas e comentarios para mim (bruno.massera@gmail.com).

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Samba do Derivativo

No final da semana passada, li uma reportagem muito interessante no Valor sobre um samba criado em inspiração a crise dos derivativos no Brasil. A letra é do diretor de commodities da BM&F e é interpretada pelo Irineu de Palmira.

http://www.irineudepalmira.com/letra_SambadoDerivativo.htm

Minha nega me falou
Meu ativo está em crise
O emprego foi embora
Nosso mundo ia tão bem
Desde lá de ‘29
Estou quebrado e sem sorte.

Minha nega me falou
Estou sem crédito na praça
Veja só que confusão – não, não, não
Me ferraram sem aviso
O patrão inda me disse
“Estou correndo muito risco”.

“Você diz que é no balcão
Onde mora o perigo
Eu sei – Ontem era a pinga
Hoje o derivativo”.

Minha nega me falou
Meu inativo parece gato
Dormindo em cima do saco
“Eu aqui linda na cama
E você só deita e ronca”.

Minha nega me falou
Que a minha ação desabou
Veja só que aflição
Tanta margem pro meu risco
Do pecado inda me livro
E desse tal derivativo.

“Você diz que é no balcão
Onde mora o perigo
Eu sei – Ontem era a pinga
Hoje o derivativo”.

domingo, 5 de julho de 2009

(Micro) Empreendedor Individual

O empreendedor individual passou a entrar em vigor no dia 1 de Julho. Uma excelente iniciativa do governo federal de tentar formalizar o imenso contingente de empreendedores que vivem na informalidade.

Quem são eles? São todos aqueles que trabalham por conta propria, sem vinculo empregaticio e que receberam no máximo R$ 36 mil durante um ano (R$3 mil por mês). O ambulante, camelô, lavanderia, salão de beleza, artesão, costureira, lava-jato, reparação, manutenção, instalação, autoescolas, chaveiros, organização de festas, encanadores, borracheiros, digitação, usinagem, solda, transporte municipal de passageiros, agências de viagem, além de muitos outros, são todos (micro) empreendedores individuais.

Hoje eles não tem proteção da seguridade social, não tem direito a previdencia, não conseguem creditos juntos ao bancos. Operam na "escuridão". O que o governo quer é trazê-los para a luz. Iniciativa louvavel e que espero que dê certo.

Os custos para a formalização são muito baixos. Para a previdencia será 11% do salario minimo, hoje R$ 51,15. Para o governo federal ZERO, municipio R$ 5,00 (serviço) e estado R$ 1,00 (comércio). Ou seja, ou o empreendedor pagará R$ 52,15 ou R$ 56,15.

Mas quais são os beneficios? Os empreendedores terão cobertura previdenciaria (aposentadoria, pensao, auxilio-doença, etc), poderão contratar um funcionario com custo baixo, isenção de taxa para registro, ausencia de burocracia (ou pele menos burocracia reduzida), acesso a serviços bancarios (crédito) e outros.

Como devo proceder? Tudo se inicia pelo cadastro na internet, na página do portal empreendedor (http://www.portaldoempreendedor.gov.br/). Lá, inclusive, existem diversas informações sobre o projeto.

A regularização não esta disponivel para todo o país ainda e será realizada paulatinamente. Mas sugiro que os empreendedores já procurem os SEBRAEs de suas cidades para se informarem.
Ainda que louvavel, a meta de 1 milhão de empreendedores não será atingida se não houver ampla divulgação e apoio das entidades municipais e estaduais. A informação deve estar ao alcance de todos. Estou fazendo minha parte. Divulgando para os empreendedores individuais que conheço. Alguns, inclusive, dentro de minha familia.
 
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